Criatividade

A criatividade é a sintonia com a constante recriação da Vida, que nunca é igual a si mesma e jamais se repete, manifestando-se num constante fluxo de acontecimentos e experiências sempre novos, únicos e imprevisíveis. A criatividade é a nossa própria vida, antes de ser a conceção de qualquer ideia ou projeto ou a produção de uma obra exterior.

Se for movida pela sabedoria, o amor e a compaixão, a criatividade é a espontânea realização do que for a cada momento e em cada circunstância o melhor para todos, sem pensar nisso. A verdadeira criatividade não obedece a planos, programas e projetos, sendo antes o inspirador sopro da Vida livre das limitações dos desejos e interesses humanos. É por isso a criatividade que leva indivíduos, sociedades, tradições e culturas a evoluírem e superarem-se, não se cristalizando em formas definitivas, estéreis e mortas. A evolução é um livro que a si mesmo se escreve e abre numa última página sempre em branco.

A criatividade manifesta-se na capacidade de começar de novo a cada instante e nesse sentido liga-se ao perdão, que nos liberta da dor do ressentimento contra nós, os outros e o mundo, bem como do inferno da crítica, da censura, do juízo, da condenação, da culpa e da culpabilização. Não porque ignore a responsabilidade, mas porque a cumpre recusando-se a encerrar a Vida no já vivido e nas interpretações, avaliações e juízos feitos acerca do passado que pesam sobre o presente e estreitam o horizonte do futuro.

Perdoar vem do latino perdonare, que sugere dar ou reconhecer a si e aos outros a possibilidade de um constante renascimento, conforme a perene renovação e criatividade da Vida. O perdão e a criatividade supõem também compreender que não há responsabilidades unilaterais e que somos sempre parte ativa das causas e condições de tudo o que nos acontece, que somos cocriadores do mundo e que não há factos que não sejam feitos, ou seja, obra das nossas ações e perceções. O perdão é tanto mais criador quanto mais reconheça a negatividade e limitação das ações anteriores e conduza à resolução firme de não voltar a ceder a elas.

Mais do que meramente humana, a mais plena criatividade é a da Vida, que se manifesta em todas as suas formas, das mais simples às mais complexas. Nesse sentido, ela revela a profunda igualdade de todos os seres, na superabundante riqueza das suas diferenças irredutíveis a comparações e hierarquias.

Autor: Paulo Borges. Copyrights iLIDH 2015-